05 dezembro 2006

CNI aponta "fosso" entre universidade e mercado

O Brasil está atrás de mais de 40 países em inovação tecnológica, porque a formação acadêmica e profissional da mão-de-obra qualificada está "totalmente equivocada". Esse foi o diagnóstico apresentado nesta terça-feira, durante seminário sobre inovação tecnológica pelo assessor da presidência da Confederação Nacional da Indústria (CNI) Manoel Marcos Formiga, que também é professor de Economia da Universidade da Brasília (UnB). O seminário "O papel e as possibilidades dos institutos tecnológicos no contexto da Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (Pitce) e da Lei de Inovação" foi realizado pela Associação Brasileira de Instituições de Pesquisa Tecnológica, com apoio do Conselho de Altos Estudos e Avaliação Tecnológica da Câmara.

Excesso de profissionais
Formiga avalia que a concentração de 75% dos universitários brasileiros em cursos de ciências sociais é o resultado de uma corrida para aquisição pura e simples de diploma e não tem conexão alguma com as necessidades econômicas do País. Um dos efeitos é que há, segundo o consultor, excesso de profissionais em uma área e déficit em outras. "No Japão, há 31 mil advogados em atividade, enquanto no Brasil há 800 mil profissionais com essa qualificação", comparou.O deputado Aristo Holanda (PSB-CE) concordou com as críticas do assessor da CNI. Para ilustrar o descompasso entre a educação e os potenciais do País, o parlamentar lembrou que, apesar de seus mais de 8,5 milhões de quilômetros quadrados de área, há apenas 2% de universitários nos cursos de Agronomia. "Estamos formando profissionais que nada têm a ver com o rumo do País", disse.

Ele lembrou que no Brasil já há um excesso de profissionais com curso superior em relação ao número de profissionais com formação técnica em nível de segundo grau. Holanda afirmou que no Canadá há 900 escolas de ensino técnico, e no Brasil, apenas 34. A falta de técnicos, segundo ele, prejudica a economia do País. "Se a educação não estiver afinada com o projeto de desenvolvimento, não haverá inovação", sentenciou.

Fosso tecnológico
Outro problema, de acordo com o assessor da CNI, é o fato de as escolas de Engenharia - em sua opinião, uma área vital para a indústria - não formarem profissionais com o perfil requerido pelas empresas."O empreendorismo não é ensinado nas universidades brasileiras. Até nos cursos de Administração, as universidades se limitam a formar os acadêmicos em gestão de negócios", destacou.

Como conseqüência, segundo Formiga, há um "fosso tecnológico", porque a indústria não consegue contratar engenheiros com a necessária qualificação para um contexto de inovação. "Nos Estados Unidos, 80% dos cientistas e engenheiros estão setor produtivo e apenas 20% nas universidades. No Brasil é o contrário", lamentou.

Exceções
Para ele, as exceções nesse quadro de formação de engenheiros ocorreram nas áreas onde a formação acadêmica conjugou-se à realidade empresarial. Segundo Formiga, o sucesso da Embrapa, da Petrobras e da Embraer corresponde à estratégia dessas empresas de selecionar engenheiros com boa formação teórica e complementar sua formação alocando-os em áreas técnicas específicas."Hoje o Brasil alcançou excelência na engenharia da terra, do mar e do ar ", disse Formiga, em referência ao foco das atividades de cada uma das três empresas.

Reforma universitária
A assessora da presidência do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Confea) Carmem Amorim avalia a implementação da reforma universitária patrocinada pelo governo federal reduzirá o problema nos cursos de Engenharia.

O projeto prevê o investimento de R$ 592 milhões na expansão do ensino superior público no Brasil até o ano que vem. Desse montante, R$ 192 milhões já foram repassados para as universidades no ano passado. A expectativa do governo é criar 125 mil novas matrículas em cinco anos.

Formiga, entretanto, discordou da representante do Confea. Em sua opinião, o problema persistirá, porque não houve uma mudança de mentalidade. Segundo ele, os currículos dos cursos de Engenharia seguem um modelo que já foi abandonado pela França desde o início dos anos 50.

Leia mais
Pedidos de patentes de brasileiros são minoria no Inpi
Deputado destaca necessidade de capacitação tecnológica
Graduação basta para atuar em pesquisa, diz especialista
Associação defende novo perfil para curso de Engenharia
Momento é bom para inovação no Brasil, diz Sebrae
Começa palestra sobre microempresa e inovação
Inpi aponta falhas em pedidos de patente de brasileiros
Inmetro vai promover concurso com 328 vagas neste ano
Inmetro destaca que certificação aumenta competitividade
Seminário sobre inovação avalia cenário das microempresas
Conselho retoma debate sobre inovação tecnológica


Fonte: Agência Câmara de Notícias.
Reportagem - Edvaldo Fernandes
Edição - Renata Tôrres

Agência Câmara
Tel. (61) 3216.1851/3216.1852
Fax. (61) 3216.1856
E-mail:agencia@camara.gov.br