05 dezembro 2006

Inovação tecnológica: um salto à frente

Enquanto a ciência avançou nas universidades e centros de pesquisa, o domínio tecnológico por parte das empresas pouco progrediu

O avanço tecnológico tem sido a força motora mais importante dos países industrializados e o principal responsável pelo aumento de sua riqueza.

Nas últimas décadas, países de industrialização recente, como Coréia do Sul, China e Cingapura, transformaram suas economias, antes pobres e tecnologicamente atrasadas, em economias dinâmicas e relativamente modernas. Cada um trilhou um caminho diferente, mas todos tiveram em comum políticas e ações dos governos para estimular e difundir em suas empresas uma cultura de inovação tecnológica, condição essencial para o desenvolvimento de processos e produtos inovadores capazes de disputar eficazmente o mercado global.

Nas últimas quatro décadas, o Brasil desenvolveu um complexo sistema de ciência e tecnologia. Hoje, tem mais de 60 mil cientistas e engenheiros de alto nível realizando atividades de pesquisa científica e tecnológica com competitividade internacional.

Porém, enquanto a ciência avançou nas universidades e centros de pesquisa, o domínio tecnológico por parte das empresas pouco progrediu. O problema é que nossas políticas de desenvolvimento industrial e de ciência e tecnologia estiveram distantes por um longo período. Os estímulos para as empresas avançarem em atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação são historicamente tímidos. É por isso que hoje menos de 10% dos nossos pesquisadores trabalham em empreendimentos privados, proporção cinco vezes menor que a média dos países industrializados.

A Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE) do governo Lula aprofundou e intensificou o leque de instrumentos que estimulam a inovação nas empresas e criou novos mecanismos, como o Programa Inovar, que estimula a criação de fundos de capital de risco, e o Juro Zero, que oferece crédito para pequenas empresas inovadoras.

Recentemente, a Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), agência de fomento do Ministério da Ciência e Tecnologia, ampliou o aporte de recursos para o setor com o Programa de Subvenção Econômica a Empresas, que teve oportunidade de ser realizado depois da aprovação da Lei de Inovação e da Lei do Bem.

Até então proibida, a subvenção destina recursos não reembolsáveis a empresas para projetos de inovação tecnológica, selecionados por editais públicos. Ao todo, foram destinados R$ 510 milhões em três frentes: R$ 300 milhões em chamada pública para seleção de projetos de inovação apresentados por empresas dos setores da PITCE; R$ 150 milhões para micro e pequenas empresas inovadoras; e R$ 60 milhões para o financiamento da incorporação de mestres e doutores aos quadros das empresas.

Ao terminar, no final de outubro, o prazo para apresentação de propostas nos setores da PITCE, nada menos que 1.075 inscrições foram recebidas pela Finep, totalizando uma demanda de R$ 1,8 bilhão -para R$ 300 milhões disponíveis. A área de semicondutores e softwares teve mais propostas, mas impressiona a participação de micro e pequenas empresas -72% do valor da demanda.

A surpreendente resposta ao Programa de Subvenção Econômica a Empresas representa um salto à frente na consciência da sociedade brasileira para o valor estratégico da ciência, da tecnologia e da inovação. Isso se manifesta na nova atitude de empresários modernos e na disposição de pesquisadores e grupos universitários para interagir com empresas. Tal consciência, ao lado da densidade de competências em diversos setores, permite que se afirme hoje existir, em muitas áreas da ciência e da tecnologia do país, suficiente capacidade para a realização de ambiciosos projetos de desenvolvimento baseados em conhecimento nacional.

Na mesma esteira, seguem os investimentos federais em ciência, tecnologia e inovação, que alcançarão R$ 10 bilhões em 2006, contra R$ 6,5 bilhões em 2002. Até dezembro, mais de 10 mil doutores terão sido formados em 2006. A execução orçamentária do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico é crescente. Ela atingirá R$ 1,2 bilhão em 2006, valor 3,5 vezes maior que o montante investido em 2002.

Ainda há muito trabalho a fazer para que o Brasil alcance os países que hoje lideram a corrida científica e tecnológica. Mas a nossa velocidade é cada vez maior, acelerada pela crescente percepção dos empresários de que o investimento em inovação tecnológica é essencial para aumentar a capacidade de competir, para ganhar mercados e proporcionar maior lucratividade às suas empresas.

SERGIO MACHADO REZENDE , 65, físico, doutor em física pelo MIT (EUA), professor titular licenciado da Universidade Federal de Pernambuco, é o ministro da Ciência e Tecnologia. Foi presidente da Finep (Financiadora Nacional de Estudos e Projetos) e secretário de Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco.

Fonte: Folha de S. Paulo.