15 dezembro 2006

Brasil investe em inovação, mas não sai do lugar

Estudo realizado por quatro pesquisadores brasileiros indica que o País deverá ingressar somente no ano 2144 no rol das nações que contam com economia e sistemas de inovação tecnológica plenamente desenvolvidos. Publicado na revista norte-americana Computing in Science & Engineering, o trabalho analisa dados relativos ao Produto Interno Bruto per capita, patentes e publicação de artigos científicos, referentes a 183 países, nas últimas três décadas.

Além de confirmar a forte correlação entre ciência e tecnologia no desenvolvimento mundial, os autores extraíram informações que devem servir de alerta para reestruturar o modelo brasileiro de desenvolvimento.

"Algo mais duradouro precisa ser feito para o Brasil acelerar seu crescimento", disse Eduardo Albuquerque, professor da Faculdade de Ciências Econômicas, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), um dos autores do artigo. Segundo ele, os dados indicam que a baixa interação entre ciência e tecnologia no Brasil é mais preocupante do que se imagina.

"Nossa produção científica cresce a uma velocidade de 6,6% per capita ao ano. Mesmo que ela fosse dobrada em uma década, permaneceríamos no mesmo lugar, em comparação com países desenvolvidos", revela.

Os pesquisadores identificaram três grupos de países, caracterizados por diferentes níveis de desenvolvimento. A inexistência de interação dos agentes do sistema de inovação nacional - universidades, instituições de pesquisa, empresas, governos e sistemas financeiros - foi um dos aspectos mais relevantes apresentados pelos 54 países pertencentes ao grupo um. Sua produção científica, insignificante, é incapaz de alimentar a produção tecnológica.

Em 1974, o Brasil encontrava-se nesse primeiro grupo. Pulou para o grupo 2 em 1998, quando atingiu o patamar de 63 artigos por milhão de habitantes. Ainda hoje, permanece no mesmo grupo, junto com outros 43 países. Esse agrupamento ainda sofre com a fraca conexão entre seus agentes de inovação, baixa conversão da produção científica em tecnologia e imensas desigualdades sociais.

O patamar seguinte, integrado por 19 países, apresenta grau elevado de interação. Nesse grupo encontram-se as nações da Europa Ocidental, Austrália, Coréia do Sul e Canadá. Acima dos três níveis, estão Estados Unidos, Japão e Taiwan. Conforme explicou Eduardo Albuquerque, cada um desses grupos possui um limiar que pode ser medido pelo número de artigos científicos publicados para cada milhão de habitantes.

Outro fator, contudo, amplia o desafio dos países pobres: como o trabalho avaliou o processo de agrupamento das últimas três décadas, observou-se que o limiar também se movimenta. "Se a fronteira anda, o nível de exigência cresce", explica Albuquerque.

Sociedades menos desenvolvidas, portanto, gastarão mais energia para permanecer onde estão. De acordo com o pesquisador, esse fator explica porque o Brasil "anda", mas parece não sair do lugar: "Aqui tem de se correr o mais depressa possível, quando se quer ficar no mesmo lugar. Se se pretende ir a um lugar diferente, é preciso correr pelo menos duas vezes mais depressa do que agora."

De acordo com Albuquerque, o ponto do limiar, em 1974, para saltar do regime 2 para o 3, era de sete artigos por milhão de habitantes. Em 1982, o número passou para 28, e, em 1990, chegou a 60. Em 1998, esse índice era de 150 artigos para cada milhão de habitantes.

O surgimento de novas tecnologias, crises e investimentos são alguns fatores que parecem mover o limiar. "As regras desse movimento não são conhecidas; logo, é preciso olhar 2144 com cautela", adverte o professor Albuquerque.

(Com informações do Boletim Informativo da UFMG)